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Obras integrais de autores portugueses

Camilo Castelo Branco

Camilo Castelo Branco (1825-1890) nasce em Lisboa no dia 16 de Março, filho ilegítimo de Manuel Joaquim Botelho e Jacinta Maria. Frequentou a sociedade portuense, dedicando-se ao jornalismo, e teve uma vida romanticamente agitada, desde vários casos amorosos e prisão. Sentindo-se cego, suicida-se com um tiro na cabeça na casa de São Miguel de Seide. Notabilizou-se com várias novelas, uma delas Amor de Perdição. É um dos maiores escritores portugueses do século XIX. Algumas obras: Os Pundonores Desagravados (poema satírico, 1845), O Juízo Final e O Sonho do Inferno (poema satírico, 1845), Agostinho de Ceuta (teatro, 1847), A Murraça (sátira, 1848), Maria, não me mates, que sou tua mãe (novela, 1848), O Marquês de Torres Novas (teatro, 1849), O Caleche (sátira, 1849), O Clero e o sr. Alexandre Herculano (polémica, 1850), Inspirações (poesia lírica, 1851), Anátema (novela, 1851), Mistérios de Lisboa (novela, 1854), Livro Negro de Padre Dinis (novela, 1855), Cenas Contemporâneas (1855), A Filha do Arcediago (novela, 1855), A Neta do Arcediago (novela, 1856), Onde está a felicidade? (novela, 1856), Um Homem de Brios (novela, 1857), Carlota Ângela (novela, 1858), O Que fazem Mulheres (novela, 1858), Cenas da Foz (novela, 1861), O Romance de um Homem Rico (novela, 1861), Amor de Perdição (novela, 1862), Coração, Cabeça e Estômago (novela, 1862), Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (novela, 1863), O Bem e o Mal (novela, 1863), Amor de Salvação (novela, 1864), A Sereia (novela, 1865), A Queda dum Anjo (novela, 1866), O Judeu (novela, 1866), O Olho de Vidro (novela, 1866), A Bruxa de Monte Córdova (novela, 1867), A Doida do Candal (novela, 1867), O Retrato de Ricardina (novela, 1868), Os Brilhantes do Brasileiro (novela, 1869), A Mulher Fatal (novela, 1870), O Regicida (novela, 1874), A Filha do Regicida (novela, 1875), A Caveira do Mártir (novela, 1875), Eusébio Macário (novela, 1879), A Corja (novela, 1880), A Brasileira de Prazins (novela, 1883), etc.

Outras páginas sobre o autor:

  • Obras Integrais de Camilo Castelo Branco
  • Maria Moisés de Camilo Castelo Branco: Enredos do Coração
  • O humor (ou a ausência de) no Camilo polémico
  • A morte como transcendência em Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco
  • Boletim da Casa de Camilo, IV Série, nº 1 (1999)
  • A novela camiliana
  • Linhas de coesão em A Morgada de Romariz

  • Encontra-se disponível nesta página o seguinte texto de Camilo Castelo Branco:

  • Luís de Camões: Apontamentos Biográficos


    CRONOLOGIA DE CAMILO CASTELO BRANCO

  • 1825 Camilo Castelo Branco nasce em Lisboa no dia 16 de Março, filho ilegítimo de Manuel Joaquim Botelho e Jacinta Maria. Desta ligação havia já uma outra filha, Carolina.

    1826 A família de Camilo muda-se em Lisboa para a Rua da Oliveira.

    1827 Morre a mãe.

    1829 O pai perfilha Camilo e Carolina.

    1830 O pai de Camilo é colocado em Vila Real como director dos Correios. A família desloca-se para essa localidade.

    1831 O pai, no entanto, é demitido e regressam todos a Lisboa. Neste ano nasce Ana Plácido, futura companheira de Camilo.

    1835 Morre o pai a 22 de Dezembro.

    1836 Camilo e a irmã partem para Trás-os-Montes. Passam a viver em Vila Real com uma tia paterna.

    1839 A irmã de Camilo casa com Francisco José de Azevedo e ficam a viver em casa de um irmão deste, o Padre António de Azevedo, em Vilarinho de Samardã. Recebe aí educação religiosa e literária do clérigo.

    1841 Casa com Joaquina Pereira e passa a viver em Friúme, Ribeira de Pena.

    1842 Vai estudar com o Padre Manuel da Lixa, em Granja Velha, para preparar o acesso à universidade.

    1843 Nascimento de Rosa, filha de Camilo e de Joaquina Pereira. Camilo inscreve-se na Academia Politécnica e na Escola Médica do Porto.

    1844 Frequenta o primeiro ano do curso de Medicina no Porto.

    1845 Inscreve-se de novo na Escola Médica e perde o ano por faltas. Publica Pundonores Desagravados (poema herói-cómico) e Juízo Final (poema satírico). Nasce Eça de Queirós.

    1846 Apaixona-se por uma rapariga de Vila Real, Patrícia Emília de Barros. Foge com ela para o Porto e é mandado prender pelo tio da moça. Inicia-se no jornalismo e colabora nos jornais O Nacional e Periódico dos Pobres. Escreve o drama Agostinho de Ceuta.

    1847 Em Friúme morre Joaquina, a esposa. Camilo escreve alguns artigos em O Nacional contra o governador de Vila Real. Como resposta, é mandado espancar.

    1848 Fixa-se no Porto, iniciando uma vida de boémia. Causa alguns escândalos de natureza amorosa. Faz parte do grupo «Leões» do café Guichard. Morre a filha Rosa e nasce a filha Bernardina Amélia, esta da sua relação com Patrícia Emília. Publica o folheto Maria não me mates que sou tua mãe!.

    1849 Faz crítica de teatro e colabora no Jornal do Povo.

    1850 Vai viver para Lisboa, onde escreve Anátema, o seu primeiro romance. Passa a viver exclusivamente daquilo que escreve. Inicia o namoro com Ana Plácido, noiva de Manuel Pinheiro Alves. Simultaneamente, dá-se de amores com a freira Isabel Cândida Vaz Mourão, do Convento de S. Bento da Avé Maria, no Porto. Resolve nesta altura matricular-se no seminário do Porto.

    1851 Volta a inscrever-se em Teologia, mas desiste.

    1852 Funda o jornal religioso O Cristianismo.

    1853 Funda o jornal religioso A Cruz. Morre a rainha D. Maria II.

    1854 Publica Os Mistérios de Lisboa. Morre Almeida Garrett.

    1855 Camilo torna-se redactor do jornal Porto e Carta. Publica Cenas Contemporâneas e O Livro Negro do Padre Dinis. Sobe ao trono D. Pedro V. E nasce o poeta Cesário Verde.

    1856 Torna-se director literário do jornal A Verdade. Publica o romance Onde Está a Felicidade?

    1857 Camilo desloca-se para Viana do Castelo devido aos amores com Ana Plácido, agora casada com Manuel Pinheiro Alves, tornando-se redactor do jornal A Aurora do Lima. Ana Plácido parte também para Viana, com a desculpa de acompanhar uma irmã doente. Torna-se pública a sua ligação com Ana Plácido. Camilo publica Duas Horas de Leitura, Cenas da Foz e Lágrimas Abençoadas.

    1858 Por causa do escândalo a propósito da ligação com Ana Plácido, Camilo sente dificuldades na colaboração nos jornais. Lança em Novembro o jornal O Mundo Elegante. Publica Vingança, Carlota Ângela e O Que Fazem Mulheres.

    1859 Camilo junta-se com Ana Plácido e parte com ela para Lisboa. Anda de terra em terra, perseguido pelo justiça e com dificuldades económicas. Nasce o filho de ambos Manuel Plácido.

    1860 Pinheiro Chagas processa a mulher e o amante. Enquanto ela é presa, Camilo anda fugido entre Douro e Minho. No dia 1 de Outubro, Camilo entrega-se na Cadeia da Relação do Porto, onde se encontrava já Ana Plácido. Camilo é visitado na prisão pelo rei D. Pedro V.

    1861 O rei volta a visitar Camilo na prisão. Os dois amantes são julgados e absolvidos pelo juiz, pai de Eça de Queirós. O julgamento causa grande impacto na opinião pública. Publica Doze Casamentos Felizes e Romance de um Homem Rico, o seu romance preferido. Morre D. Pedro V e nasce Trindade Coelho.

    1862 Camilo e Ana Plácido vão viver para Lisboa. Camilo publica Amor de Perdição (com um grande êxito editorial), Coração. Cabeça e Estômago, Memórias do Cárcere, entre outros.

    1863 Nasce em Lisboa o filho Jorge. Morre Manuel Pinheiro Alves e Manuel Plácido, supostamente seu filho, herda a casa de São Miguel de Seide em Famalicão. Camilo publica Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, Noites de Lamego, Agulha em Palheiro e Anos de Prosa.

    1864 Camilo fixa-se em São Miguel de Seide com Ana Plácido e os filhos, na casa que fora de Manuel Pinheiro Alves. Nasce Nuno, o terceiro filho do casal. Camilo publica Vinte Horas de Liteira, No Bom Jesus do Monte e Amor de Salvação. Questão Coimbrã.

    1865 A filha de Camilo e de Patrícia Emília, Bernardina Amélia, casa com um capitalista idoso. Camilo publica O Esqueleto, A Sereia e a peça O Morgado de Fafe Amoroso.

    1866 Camilo recebe Castilho em São Miguel de Seide. Publica A Queda dum Anjo, Enjeitada, O Judeu e O Santo da Montanha.

    1867 Publica A Bruxa do Monte Córdova, A Doida do Candal e O Senhor do Paço de Ninães. Nascem António Nobre, Camilo Pessanha e Raul Brandão.

    1868 Camilo vai viver para o Porto e dirige a Gazeta Literária do Porto. Publica Mistérios de Fafe, O Sangue e O Retrato de Ricardina.

    1869 Camilo vive em Lisboa com algumas estadas em Seide. Publica Os Brilhantes do Brasileiro.

    1870 Camilo escreve ao bispo de Viseu, na altura primeiro-ministro, a pedir o título de visconde; é-lhe negado por não estar casado com Ana Plácido. Escreve a peça O Condenado e publica A Mulher Fatal.

    1871 A peça O Condenado é representada no Porto. Conferências do Casino. Morre Júlio Dinis.

    1872 Camilo recebe o imperador do Brasil D. Pedro II na sua casa de São Lázaro no Porto. Manda queimar o romance A Infanta Capelista e publica Quatro Horas Inocentes.

    1873 Camilo viaja entre Braga, Porto, Póvoa de Varzim e Lisboa.

    1874 Publica Correspondência Epistolar entre José Cardoso Vieira de Castro e Camilo Castelo Branco.

    1875 A pretexto da educação dos filhos, Camilo muda-se para Coimbra com toda a família. Publica Novelas do Minho, (primeira parte), Noites de Insónia e A Caveira do Mártir.

    1876 Publica o Curso de Literatura Portuguesa. Fundação do Partido Republicano.

    1877 Manuel Plácido, filho de Camilo e de Ana Plácido, morre com 19 anos. Lisboa e Porto ficam unidas pelo caminho de ferro. Morre Alexandre Herculano.

    1878 Acentuam-se os problemas de visão de Camilo. O escritor fica ferido num acidente de comboio entre São Romão e Ermesinde.

    1879 Publica Eusébio Macário, sua primeira experiência naturalista, e o Cancioneiro Alegre.

    1880 Publica A Corja, A Senhora Rattazzi e Ecos Humorísticos do Minho.

    1881 Camilo intervém no rapto de uma jovem órfã para a casar com o filho Nuno.

    1882 Agravam-se as dificuldades de visão de Camilo. Expulsa de casa o filho Nuno. Publica A Brasileira de Prazins e o Perfil do Marquês de Pombal.

    1883 Leiloa a sua biblioteca em Lisboa. Polémica com Avelino Calisto na Questão da Sebenta. Fisicamente ameaçado, terá comprado a arma com que se suicida sete anos mais tarde.

    1885 É-lhe atribuído pelo rei no dia 27 de Junho o título de Visconde de Correia Botelho. Morre o rei D. Fernando II e sobe ao trono D. Luís I. Guerra Junqueiro publica A Velhice do Padre Eterno. Camilo começa a publicar os Serões de S. Miguel de Seide.

    1886 Publica Vulcões de Lama, o seu último romance, e Boémia do Espírito.

    1887 Camilo desloca-se a Lisboa para consultas médicas.

    1888 Casamento de Camilo com Ana Plácido. Publica o livro de poemas Nostalgias. Nasce em Lisboa Fernando Pessoa.

    1889 Homenagem em Lisboa de um importante grupo de intelectuais, numa iniciativa de João de Deus. É novamente visitado por D. Pedro II, ex-imperador do Brasil. É publicada uma recolha dos seus primeiros escritos: Delitos da Mocidade.

    1890 Sentindo-se cego, suicida-se com um tiro na cabeça no dia 1 de Junho, na casa de São Miguel de Seide.


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    © 1996-2001, Projecto Vercial.

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    Mom
    Crítica Central de filosofia e cultura
     Filosofia Aberta Filosofia Leitura Música
    A Arte de Argumentar, de Anthony Weston
    A Arte de Argumentar, de Anthony Weston
    Tradução de Desidério Murcho
    Revisão Científica de João Branquinho
    Gradiva, Fevereiro 1996, 145 pp.
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    Apresentação | Índice | Excerto | Apêndice
    Crítica da RFC | Crítica do Público

    Este pequeno livro ensina a escrever e a avaliar textos argumentativos que se distinguem dos textos meramente expositivos. Os argumentos são um elemento imprescindível na descoberta da verdade. Qual é a verdade acerca da eutanásia? Deve ser tolerada, ou não? Quer se defenda uma coisa ou outra, é preciso mostrar que temos razão. E isso faz-se através de argumentos. Em matéria de argumentos não vale tudo o mesmo, e não valem sobretudo os maus argumentos ainda que convençam o auditório por serem sofisticamente apresentados como bons. Por mais que quem nos dá o troco do jornal da manhã tenha muita habilidade para nos enganar, há um padrão aritmético objectivo que nos mostra se o troco que recebemos é ou não justo. O mesmo acontece com os argumentos.

    Mas o que são afinal os argumentos? Os argumentos são formas de organizar informações, a que se chama as premissas, com vista a um determinado fim, a que se chama a conclusão. Há vários tipos de argumentos: dedutivos, por analogia, de autoridade, através de exemplos e causais. Para todos eles existem regras que distinguem os bons dos maus argumentos. Este livro apresenta essas regras de forma rigorosa mas simples, sempre ilustrando com exemplos claros.

    Desidério Murcho


    Crítica | Filosofia | Leitura | Música

    Crítica Central de filosofia e cultura
     Filosofia Aberta Filosofia Leitura Música
    Que Quer Dizer Tudo Isto?, de Thomas Nagel
    Que Quer Dizer Tudo Isto?
    Uma iniciação à filosofia, de Thomas Nagel
    Tradução de Teresa Marques
    Revisão Científica de Desidério Murcho
    Gradiva, Novembro 1995, 92 pp.
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    Apresentação | Sobre o autor | Índice | Excerto
    Crítica da RFC | Crítica do Público

    Uma introdução elementar a 9 problemas filosóficos típicos, escrita num tom informal, claro e simples, mas rigoroso e preciso. O autor introduz tópicos de epistemologia e metafísica, filosofia da linguagem e da mente, ética e filosofia política, terminando com uma introdução a dois tópicos metafísicos gerais (o sentido da vida e o problema da morte). O Cap. 1 oferece ainda uma caracterização preliminar do género de problemas que são estudados pela filosofia.

    Nagel defende que não é possível compreender os textos dos grandes filósofos sem que tenhamos percebido os problemas com que se debatem. Por isso, introduz directamente o leitor aos problemas da filosofia, nunca citando uma só vez um nome de um filósofo.

    O título da obra refere-se à pergunta repetidamente formulada, sempre que se procura caracterizar um problema: que quer isso dizer? O leitor fica assim ciente da importância, central na filosofia, de procurar a formulação correcta dos problemas filosóficos, verificando a cada passo se estamos perante um problema genuíno ou não. As tentativas de solução dos problemas apresentados são cuidadosamente defendidas com argumentos claros. Geralmente, essas tentativas fracassam, pois o autor deseja mostrar por que razão as soluções mais óbvias falham.

    Todos os problemas abordados em Que Quer Dizer Tudo Isto? fazem parte dos programas do ensino secundário, pelo que esta obra constitui um instrumento crucial neste domínio. Mas a acuidade com que os problemas são colocados, o cuidado posto na clareza da argumentação e a importância central dos temas tratados tornam esta obra numa leitura obrigatória para os alunos do ensino superior e para o público interessado em conhecer um pouco mais os problemas da filosofia.

    Este pequeno livro é talvez a melhor primeira introdução à filosofia que se pode ler. Gostaria de tê-lo lido com 16 anos: ter-me-ia poupado muitas angústias e amarguras na minha relação com a filosofia e o seu ensino. Esta obra não nos ensina o que pensou Platão, nem Aristóteles, nem Descartes, nem Kant; mas ensina-nos o mais importante: ensina-nos a pensar sobre os problemas filosóficos. E sem essa competência específica, é inútil aprender o que disseram os grandes filósofos do passado.

    Desidério Murcho


    Crítica | Filosofia | Leitura | Música

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    FERNANDO PESSOA
    in English



    It is my pleasure to allow the Web community to make acquaintance with a very peculiar poet, not only because being Portuguese he studied and spent his youth in South Africa where he finished his studies with high merit before going back to Portugal and become one of the most important Portuguese poets, but also because he developed a particular way to communicate through four differents caracters. If this is the first time you hear about Fernando Pessoa I suggest you to start by reading the Introduction written by Jonathan Griffin to his 'Selected Poems' where you can have a first idea about Pessoa's personality. Then you can go on and read the article about the four heteronyms.
    Enjoy Fernando Pessoa poems translated by J.G. or the poems that Fernando Pessoa wrote in English.

    More poems of Fernando Pessoa on Carlos Bispo's 'Versos de Segunda' and on Rodrigo Siqueira's Pessoa.
    Now in portuguese, more information at A.Gomes pages about F.Pessoa, with links to 'O Canto'.


    Back home, or directly to Pt poetry on Autores Africanos or Fr sketches of Raymond Devos .

    Crítica Central de filosofia e cultura
     Metafísica e Lógica Filosófica Filosofia Leitura Música

    Definição de "definição"
    Desidério Murcho

    O objectivo deste texto é ajudar estudantes e professores a compreender melhor os diferentes tipos de definições e o que as distinguem. As definições são importantes. São importantes em filosofia e nas ciências e são importantes no nosso dia-a-dia e na vida pública.

    São importantes na vida pública porque temos necessidade de usar com rigor várias noções que a regem. Uma forma de obter algum rigor é definir rigorosamente algumas noções centrais. Por exemplo, para os advogados, juízes e polícias, um roubo não é bem o que nós entendemos por roubo. Em termos populares, um roubo acontece sempre que alguém subtrai ilegalmente os bens alheios. Mas um polícia distingue um roubo de um furto e em ambos os casos alguém subtraiu ilegalmente bens alheios. Mas para um polícia e para o nosso sistema judicial é importante saber se esse acto envolveu violência, ou não. Se não, então é apenas um furto. Se sim, é um roubo. Também na escola é muito importante definir claramente várias noções, mesmo que isso por vezes introduza arbitrariedades. Por exemplo, um estudante com 10 tem aproveitamento. Com 9, não. Isto é artificioso, mas qualquer outra alternativa seria também artificiosa. Tivemos de definir o que era "ter aproveitamento" e tínhamos de fazê-lo de forma rigorosa. Pagamos um certo preço por esse rigor, mas se deixássemos a noção por definir, se permitíssemos que a noção fosse vaga, o preço a pagar seria ainda maior.

    Na ciência, as definições são também importantes. Todos nós aprendemos nos bancos do ensino secundário que em física os termos "massa", "velocidade" e muitos outros se definem de uma forma muito precisa e rigorosa. Sem estas definições a física não seria possível, porque nunca poderíamos isolar com suficiente precisão os fenómenos que queremos estudar. Enquanto continuarmos a olhar para um objecto que cai e não conseguirmos distinguir a massa da velocidade e estas do ímpeto, não poderemos fazer física.

    Também na filosofia as definições são importantes. São importantes por duas razões: para que o nosso discurso seja mais claro e como meio para uma compreensão mais substancial dos nossos conceitos mais importantes. Mas as definições em filosofia tornam-se muitas vezes objecto de disputa filosófica, porque são surpreendentemente difíceis de obter. Isto não acontece porque os filósofos sejam particularmente menos inteligentes do que os físicos ou os legisladores. Acontece porque os conceitos que queremos definir em filosofia são por vezes tão centrais na nossa economia conceptual, que por isso mesmo são muito difíceis de traduzir. A física consegue definir "massa", mas como definir os conceitos com que se define a massa? Como definir "energia" e "corpo"? E como definir os conceitos que usamos para definir esses conceitos? Os legisladores conseguem definir "roubo" e "furto", mas como definir a noção mais básica de "justiça" ou "bem moral"? Na escola definimos perfeitamente bem o que é ter aproveitamento, mas como podemos definir o conhecimento? As definições que interessam na filosofia são difíceis porque são definições de conceitos tão básicos e centrais que é difícil encontrar outros conceitos mais básicos e mais simples que possamos usar para os definir.

    Mas do facto de algo ser difícil de fazer não se pode concluir que não vale a pena fazer. Afinal, as definições da física também são difíceis e durante muitos séculos a física esteve num grande impasse. Só nos últimos séculos a física e as outras ciências conheceram desenvolvimentos extraordinários. Ao longo da história da filosofia, a tentativa para definir alguns dos conceitos centrais do nosso pensamento tem sido uma constante. As primeiras obras filosóficas articuladas que nos chegaram são os diálogos de Platão, que consistem em grande parte, precisamente, em tentativas de definir conceitos centrais do nosso pensamento, conceitos importantes para a filosofia. Entre os conceitos que Platão tentou definir, encontram-se os seguintes: bem, justiça e conhecimento. Estes conceitos são centrais no nosso pensamento acerca de muitas matérias, e é por isso que são importantes para a filosofia; mas é por serem igualmente conceitos muito básicos que são tão esquivos.

    O mais brilhante aluno de Platão, Aristóteles, percebeu que as definições eram extremamente importantes para a filosofia. E procurou compreender melhor o que eram as definições; procurou, de alguma maneira, definir as definições. Felizmente, temos hoje uma compreensão muito mais clara do que são as definições do que tinha Aristóteles.

    O primeiro aspecto a ter em conta é o seguinte. Em termos populares, definir uma coisa é dizer qual é a sua essência. Assim, por exemplo, podemos dizer que queremos definir o Homem, ou, numa linguagem não sexista, queremos definir o ser humano.

    Em primeiro lugar, importa esclarecer que certos usos da linguagem, que no dia-a-dia não geram problemas, podem gerar problemas em filosofia. Ao dizer que queremos definir o ser humano, parece que estamos a dizer que queremos definir uma certa coisa, como definir um certo ser humano qual? Obviamente, não é disto que se trata. O que nós queremos é definir os seres humanos no seu todo, e usamos uma figura de estilo elementar que consiste em tomar a parte pelo todo, substantivando a nossa expressão e falando de "o ser humano". Claro que não queremos definir um certo ser humano; queremos defini-los a todos, queremos definir a categoria "Ser Humano". A este nível, esta liberdade linguística não ameaça grandes confusões. Mas se começarmos a falar do Ser, pensando que estamos a falar de uma coisa, e não de uma categoria de coisas a categoria mais geral, que abrange tudo o que há a confusão espreita-nos e será quase inevitável. O passo para começarmos a pensar que o Ser é uma espécie de Deus, ou outro tipo de entidade particular, não é muito grande. E isso será uma grande confusão, confusão a que uma das pessoas que mais a combateu, Heidegger, dá também origem dada a maneira como se exprime.

    Em segundo lugar, pensar que definir algo é dizer a sua essência é o resultado de uma concepção natural e intuitiva, mas redutora, do que é uma definição. Definir algo através da sua essência é apenas uma forma particular de definição. Ter uma compreensão clara dos diferentes tipos de definição é o que nos vai ocupar nestas páginas.

    Propriedades e objectos

    Comecemos, precisamente, pelo tipo de definição que intuitivamente se tem em mente. Definir F é, segundo esta concepção, apresentar a essência de F. Mas o que é a essência de F? É isto que iremos começar por esclarecer.

    Dizer que a essência do ser humano é a abertura às diferentes potencialidades, ou dizer que a essência do ser humano é a racionalidade, ou qualquer coisa deste género, é apenas uma forma pouco rigorosa de dizer que uma propriedade essencial individuadora de ser humano é a abertura às diferentes potencialidades ou a racionalidade. E enquanto não tivermos uma ideia clara do que é uma propriedade essencial e individuadora, não teremos uma compreensão clara do que estamos a dizer.

    Comecemos pelo princípio. Podemos distinguir pelo menos duas categorias básicas de constituintes do universo (mas pode haver mais). Aquilo a que podemos chamar "particulares" e aquilo a que podemos chamar "propriedades". Esta distinção está inscrita na nossa linguagem. Usamos dispositivos diferentes para falar de particulares e para falar de propriedades. Tomemos a seguinte afirmação simples: "O João é alto". Nesta frase podemos distinguir o sujeito ("João") e o predicado ("é alto"). O que a frase afirma é que o João tem a propriedade de ser alto. Na nossa linguagem, dispositivos como os nomes próprios e os substantivos comuns, referem particulares; e os predicados exprimem propriedades. Os nomes próprios (e outros dispositivos linguísticos que não importa agora referir) são a contraparte linguística dos particulares. São dispositivos linguísticos que referem particulares. Os predicados são a contraparte linguística das propriedades. São dispositivos linguísticos que exprimem propriedades.

    Com um certo abuso de linguagem, podemos dizer que a Joana tem belos predicados. Mas o que queremos dizer é que a Joana tem belas propriedades. Predicados são as entidades linguísticas que usamos para falar das propriedades, que não são entidades linguísticas. Mas é claro que se a Joana tem belas propriedades, tem também belos predicados porque ao falarmos nela iremos dizer que é bonita, boa pessoa, sincera, altruísta, etc. estaremos a usar vários predicados para falar das várias propriedades da Joana.

    Algumas propriedades não são relacionais, pelo menos superficialmente, como ser verde. Mas muitas outras são relacionais; são propriedades que relacionam mais de um particular. Quando eu digo que o João é alto estou na verdade a dizer que, em relação à altura média das outras pessoas, o João é alto. Ser alto é uma propriedade relacional, apesar de por vezes parecer que o não é. Mas há propriedades relacionais óbvias, como estar entre Lisboa e Porto. Coimbra, por exemplo, tem, precisamente, esta propriedade relacional. Na lógica actual a diferença entre propriedades não relacionais e relacionais torna-se mais fácil de compreender porque usamos predicados monádicos no primeiro caso e predicados não monádicos no segundo. Assim, "Fx" é um predicado monádico como "ser branco". Mas "Fxy" é um predicado binário, como "amar". E "Fxyz" é um predicado triádico, como "estar entre dois sítios".

    Há muita filosofia, e de grande interesse, sobre vários problemas associados às propriedades. Não podemos, obviamente, tratar de tal coisa aqui. Para os nossos propósitos basta ter uma visão clara do que é uma propriedade, e que as propriedades tanto podem ser relacionais como não. É tentador dizer que as propriedades não relacionais são intrínsecas e simples, mas isto é muito provavelmente um erro. Uma propriedade como "ser alto" é intrínseca sob vários pontos de vista importantes, e todavia é claramente relacional. E uma propriedade como "ser verde" parece simples, mas podemos analisá-la em várias propriedades mais simples, como ter um certo comprimento de onda (se estamos a pensar na própria luz) ou activar determinados centros do nosso sistema nervoso (se estamos a pensar na sensação visual e não na luz em si). Um convencionalista desejará dizer que as propriedades são simples ou complexas em função do ponto de vista em que nos colocamos (veja-se o caso de Goodman, com o "verdul"). Um realista dirá que há propriedades simples primitivas, a partir das quais se constroem as outras. Mas mesmo um realista terá de aceitar que nem todas as propriedades que na linguagem comum parecem simples são realmente simples. Em qualquer caso, estas discussões subtis não afectam a compreensão geral que precisamos para os propósitos deste ensaio; o que precisamos é de compreender algumas noções centrais que são cruciais para compreender melhor as definições.

    Propriedades essenciais e essência

    Se pensarmos no conjunto das propriedades de Sócrates, podemos fazer uma lista muito longa. Sócrates era um ser humano, era grego, era filósofo, foi condenado à morte, etc. Intuitivamente, algumas destas propriedades são contingentes, no sentido em que Sócrates tinha essas propriedades, mas poderia não as ter tido. Por exemplo, Sócrates era grego porque nasceu na Grécia. Mas poderia ter sido egípcio, se os seus pais tivessem emigrado para o Egipto. E se acharmos que mesmo assim ele seria grego, por ser filho de gregos, podemos imaginar que os avós de Sócrates poderiam ter emigrado para o Egipto. E assim, Sócrates poderia ter sido egípcio. Isto quer dizer que a propriedade de ser grego não é uma propriedade essencial de Sócrates.

    Por outro lado, é pelo menos difícil pensar que, apesar de Sócrates ser efectivamente um ser humano, poderia não o ter sido. Intuitivamente, ser um ser humano é uma propriedade diferente de ser grego. Sócrates era grego, mas poderia não o ter sido. E era também um ser humano, mas não poderia deixar de o ser. Dizemos assim que, em relação a Sócrates, a propriedade de ser grego é acidental ou contingente, ao passo que a propriedade de ser um ser humano não é acidental ou contingente: é necessária ou essencial.

    Antes de prosseguirmos, é importante evitar desde já um erro comum. As propriedades não são, em si, essenciais ou contingentes. É o modo como são exemplificadas pelos objectos que muda, e não qualquer característica adicional das propriedades. "Ser par", por exemplo, é uma propriedade essencial do número 2, mas uma propriedade contingente do número de países da península ibérica. É importante compreender isto para que não se pense que quando procuramos as propriedades essenciais de um dado objecto estamos a procurar umas propriedades especiais, que são em si essenciais; não. O que procuramos são propriedades que sejam exemplificadas de uma determinada maneira pelo objecto ou objectos que temos em mente.

    Pensemos outra vez no que temos em mente, intuitivamente, quando falamos da "essência" de algo. Se virmos com atenção, verificamos que não aceitamos que a essência de Sócrates, por exemplo, consista em ser um ser humano. O que temos intuitivamente em vista não são apenas as propriedades essenciais de Sócrates. Mesmo que seja verdade que ser um ser humano é uma propriedade essencial de Sócrates, isso não é ainda a sua "essência". Não vou dizer o que temos em mente com o uso intuitivo de "essência", porque não sei o que é e acho que ninguém sabe. O uso intuitivo de "essência" é demasiado vago. Mas uma aproximação é o seguinte: além de Sócrates ter determinadas propriedades essenciais, tem provavelmente outras propriedades que além de essenciais são individuadoras. A diferença é a seguinte: Sócrates é essencialmente um ser humano. Mas isso não distingue Sócrates dos outros seres humanos. O que queremos como "essência" é algo que distinga Sócrates dos outros seres humanos. O que queremos não é apenas uma propriedade ou conjunto de propriedades essenciais. Queremos uma propriedade ou conjunto de propriedades que além de essenciais sejam também individuadoras: que distingam Sócrates de outros objectos. Por outras palavras, queremos uma propriedade ou conjunto de propriedades que só Sócrates tenha. (Curiosamente, Aristóteles achava que só poderíamos definir categorias, como ser humano, mas não particulares, como Sócrates.)

    Um exemplo pode ajudar-nos a ver o que pode ser isso de uma propriedade essencial individuadora. Pensemos no número 2. Este número tem uma propriedade essencial: ser par. Mas, claro, ser par não é uma propriedade que distinga este número de outros números, porque há muitos outros números que são pares. Pensemos agora na propriedade de ser um número par e primo. Só o número 2 tem esta propriedade. Claro que é uma propriedade que resulta da conjunção de duas outras propriedades. Mas isso é irrelevante. O ponto crucial é que essa propriedade, complexa ou não, além de essencial é individuadora: é uma propriedade que mais nenhum objecto exemplifica. Este exemplo mostra também outro aspecto importante para as definições. Se repararmos bem, ser par não é uma propriedade individuadora de 2. E ser primo também não. Isto quer dizer que as duas propriedades, separadamente, não são definidoras de 2. Mas conjuntamente são: não há nem poderia haver qualquer outro particular além do 2 que seja par e primo. Assim, esta conjunção de propriedades constitui um conjunto de propriedades essenciais individuadoras de 2.

    Será que podemos encontrar alguma propriedade essencial individuadora de Sócrates? O código genético é uma boa pista, mas infelizmente não serve, pois Sócrates poderia ter tido um irmão gémeo, que partilharia com ele exactamente o mesmo código genético. Mas, mesmo que servisse, esta propriedade essencial individuadora não serviria de muito. Penso que quando procuramos intuitivamente a "essência" de Sócrates ou dos seres humanos, não estamos a pensar em Sócrates nem nos seres humanos como seres biológicos, mas como seres espirituais, seres mentais. Assim, qualquer propriedade individuadora que dermos será sempre vista como um "truque lógico" por quem procura as grandes essências e as definições profundas, porque essa pessoa está em pleno dualismo cartesiano, está a pensar que os seres humanos e Sócrates têm uma coisa -- a alma ou o espírito -- que é fundamental para a compreensão da sua essência, e não querem ouvir falar de propriedades individuadoras corriqueiras, propriedades biológicas ou físicas. Mas se é isso que procuramos, é melhor que o tornemos claro desde o início e é melhor estarmos preparados para defender o dualismo alma/corpo, do qual a nossa pergunta pela "essência" depende.

    Essências e definições

    Estivemos a ver o que são propriedades, e como podemos distinguir 2 tipos de propriedades: as essenciais ou necessárias e as contingentes ou acidentais. Quanto às propriedades essenciais, podemos distinguir as meramente essenciais, das individuadoras. Estas últimas constituem o que por vezes procuramos quando procuramos a "essência" de algo (mas nem sempre, como vimos; e voltaremos a este tema).

    Tipos de propriedades

    Podemos introduzir uma distinção entre propriedades essenciais e necessárias, ou podemos usar estes termos como equivalentes. Se introduzirmos a distinção, será a seguinte: uma propriedade essencial de um objecto é aquela propriedade tal que não há qualquer circunstância possível em que esse objecto exista e não tenha essa propriedade. Mas há circunstâncias em que esse objecto não tem essa propriedade: são circunstâncias em que o próprio objecto não existe, e portanto também não tem essa propriedade. Por exemplo, se achamos que Sócrates era essencialmente um ser humano, é porque não há circunstâncias em que ele exista e não seja um ser humano. Mas há circunstâncias em que Sócrates não é um ser humano: são circunstâncias em que Sócrates não existe. Imagine-se que os pais de Sócrates nunca se tinham conhecido; ou que a mãe dele tinha morrido na infância. Essas são circunstâncias em que Sócrates não seria um ser humano, porque Sócrates não existiria nessas circunstâncias. Assim, podemos dizer que ser um ser humano é uma propriedade essencial de Sócrates (porque ele é um ser humano em todos os mundos em que existe), mas não necessária (porque ele não existe em todos os mundos possíveis).

    Uma propriedade necessária de um objecto é aquela propriedade tal que esse objecto tem essa propriedade em todas as circunstâncias possíveis. Claro que só os objectos que existem em todas as circunstâncias possíveis podem ter propriedades necessárias. Aos objectos que existem em todas as circunstâncias possíveis chama-se "existentes necessários". Nem todos os objectos são existentes necessários. Os planetas, as pessoas e as cidades que existem poderiam não ter existido. Mas os números, e Deus (se existe), são tradicionalmente encarados como existentes necessários: existem em todas as circunstâncias possíveis. Assim, a propriedade de ser par é uma propriedade não apenas essencial mas também necessária do número 2. O conhecido argumento ontológico a favor da existência de Deus procura mostrar que Deus é um existente necessário (um objecto que existe em todas as circunstâncias possíveis) e que se tentarmos pensar o contrário, somos conduzidos a uma contradição.

    Mas o nosso tema é as definições. Perdemos tanto tempo com propriedades porque sem compreender estas distinções não podemos compreender alguns tipos fundamentais de definições. Não podemos compreender a diferença entre definições essencialistas e definições não essencialistas.

    Imaginemos que eu defino assim o conceito de criatura com rins: "Criatura com rins é toda aquela criatura que tem coração". Esta definição funciona bem, dentro de certos limites. Funciona extensionalmente bem, no sentido em que não há quaisquer contra-exemplos de criaturas que tenham rins e não tenham coração. Mas esta definição não é essencialista. Porquê? Porque apesar de ser verdade que todas as criaturas que têm rins têm coração, não há qualquer razão para pensar que uma propriedade essencial das criaturas que têm rins é terem coração. Isto é um facto da natureza, mas talvez seja uma contingência evolutiva. Talvez noutros planetas outras criaturas com rins não tenham coração; ou talvez tivesse havido na Terra criaturas com rins e sem coração, se a história evolutiva tivesse sido diferente.

    Podemos, por isso, distinguir definições essencialistas de definições extensionais. A diferença é esta: numa definição essencialista, apresentamos propriedades essenciais e individuadoras, do que queremos definir. Numa definição extensional limitamo-nos a apresentar propriedades que o que queremos definir exibe, mas não pretendemos com isso dizer que o que queremos definir tem de ter essas propriedades em todas as circunstâncias possíveis. Assim, as definições essencialistas são muito mais fortes do que as definições meramente extensionais.

    Mas há um tipo ainda mais forte de definições: são as definições analíticas. Neste caso, o que obtemos é uma sinonímia. Por exemplo, podemos definir a água deste modo: "Uma dada substância é água se, e só se, for H2O". Ser H2O é uma propriedade essencial e individuadora da água: isto quer dizer que qualquer substância que seja H2O é água e que toda a substância que for água é H2O. Mas sem dúvida que "H2O" não é um sinónimo de "água". Que a água é H2O foi uma descoberta empírica da ciência química, e não um facto linguístico sobre o significado da palavra "água". Quem descobriu que a água era H2O foram os químicos e não os lexicógrafos. Assim, a nossa definição é essencialista, mas não é analítica.

    Tipos de definições explícitas

    As definições analíticas são as mais fortes. O resultado de uma definição analítica é a análise do conceito a definir. É isto que é literalmente uma análise, e quem pensa que a metáfora de "decompor" um conceito nas suas partes é dizer literalmente o que é uma análise não sabe ainda claramente do que está a falar. A metáfora da "decomposição" das partes de um conceito resulta de em geral, mas nem sempre, o conceito X que queremos definir ser definido analiticamente com recurso a 2 ou 3 conceitos mais simples, como no exemplo seguinte: "O conhecimento é crença justificada verdadeira". A ideia de uma análise ou definição analítica é esta: o conceito X é definido com base nos conceitos Y que fazem parte do significado de X. Isto quer dizer que numa definição analítica ou numa análise temos de captar o significado do conceito que estamos a definir. Por exemplo, eu posso definir "virgem" assim: "Uma pessoa é virgem se, e só se, nunca teve relações sexuais" (ou: "Uma pessoa virgem é alguém que nunca teve relações sexuais"). Esta definição é analítica porque nos diz qual é o significado de "virgem". Grande parte dos grandes debates em filosofia resulta da tentativa de encontrar definições analíticas de alguns conceitos centrais, como conhecimento. Platão, por exemplo, no diálogo Teeteto, procura mostrar que a definição analítica de conhecimento como crença verdadeira justificada, apesar de apelativa, não funciona.

    É também agora evidente que quem acha que a análise filosófica se "opõe" à síntese, ou que ambas se "complementam", não sabe o que é uma análise, e está a pensar em termos meramente formais, linguísticos e lexicais. Dado que, lexicalmente, "análise" e "síntese" se opõem, e dada a ideia peregrina de Hegel de que os opostos se complementam, parece imediatamente profundo e filosófico dizer que a síntese completa a análise. Isto é o resultado de uma má formação filosófica, baseada em trocadilhos e jogos de palavras, um exercício puramente formal e meramente lexical. Uma análise do conhecimento é importante porque nos ajuda a compreender o que é o conhecimento; uma síntese do conhecimento... seria o quê? Juntar "as partes componentes" do conhecimento? Para quê? Isso já nós temos intuitivamente, sempre que falamos do conhecimento.

    As definições essencialistas têm uma força intermédia; são mais fortes do que as extensionais, mas mais fracas do que as analíticas. São mais fracas do que as analíticas no sentido em que não procuram dar o significado do termo a definir. Quando definimos água como H2O, não estamos a dizer que é isso que a palavra "água" quer dizer. Isto seria ridículo, porque implicaria que antes de os químicos descobrirem a composição química da água ninguém sabia o que a palavra "água" queria dizer. Logo, esta definição é essencialista mas não é analítica.

    As definições mais fracas são as meramente extensionais. São mais fracas no sentido em que não se baseiam em propriedades essenciais nem no significado das palavras, mas unicamente numa coincidência extensional. Mas o que significa "coincidência extensional"? Para compreendermos isto temos de saber o que é a extensão de um predicado ou de um termo. Pensemos no predicado "ser verde". A sua extensão é todos os objectos verdes. Quando temos uma coincidência extensional, isso quer dizer apenas que a extensão do termo a definir e a extensão do termo ou termos que usamos para fazer a definição coincidem. Mas essa coincidência pode não passar precisamente de uma contingência, um facto aleatório do mundo. Numa definição extensional não estamos a falar de propriedades essenciais, nem do significado das palavras; estamos só a apontar um facto do mundo, que pode muito bem ser contingente.

    As definições filosóficas pretendem em geral ser analíticas ou essencialistas, e não apenas extensionais. Mas isso nem sempre é possível. Aristóteles, por exemplo, definia ser humano como animal racional: "Um ser é um ser humano se, e só se, for um animal racional". Claro que esta definição não é analítica. "Ser humano" não quer dizer "animal racional"; esta definição não é uma análise. Se amanhã descobrirmos uma espécie biológica inteligente noutro planeta, não teremos de alterar o significado da expressão "ser humano". Mas se "ser humano" quisesse dizer "animal racional", seria impossível que um animal racional não fosse humano. Não é fácil saber se a definição de Aristóteles é essencialista ou meramente extensional. O facto de Aristóteles conceber as definições em termos de género próximo e diferença específica contribui para pensar que ele tinha em mente uma mera coincidência extensional: afinal, a definição em termos de género próximo e diferença específica é apenas uma forma de sobrepor duas classes de objectos de tal forma que a sua extensão coincida exactamente com o que queremos definir. Mas muitas pessoas pensaram que este tipo de definição de Aristóteles era essencialista; pensaram que as propriedades da racionalidade e da animalidade eram essenciais ao ser humano. Curiosamente, isto elimina a possibilidade de os seres humanos serem uma alma imortal não animal. Hoje em dia é muito mais plausível tomar a definição de Aristóteles como meramente extensional; se concebermos "racional" no sentido forte de ser dotado de grande inteligência (suficiente para discutir definições, por exemplo), é verdade que todos os animais racionais que existem (na Terra) são seres humanos. Mas as coisas poderiam ter sido diferentes. Outra espécie de animal poderia ter dado origem a uma espécie inteligente diferente; seriam animais racionais; mas não seriam seres humanos. Portanto, de um certo ponto de vista, a definição de Aristóteles está correcta se a entendermos como uma definição extensional; mas está errada se a entendermos como uma definição essencialista.

    Pensemos outra vez na ideia intuitiva da "essência" das coisas. Nesta ideia intuitiva estão misturadas duas ideias distintas: a de definições analíticas e a de definições essencialistas. Em ambos os casos damos, de algum modo, a "essência" do que estamos a definir. A essência da água é ser H2O. A essência das pessoas virgens é nunca terem tido relações sexuais. Mas confundir os dois tipos de definições e falar confusamente de "dar a essência" não contribui em nada para uma compreensão mais alargada do que queremos fazer.

    Condicionais e condições

    A forma mais rigorosa de uma definição é a seguinte: "Uma certa coisa é F se, e só se, essa coisa for G". Outra forma é dizer apenas: "F é G". O segundo caso é menos claro do que o primeiro e tem de ser entendido como uma forma abreviada do primeiro. Por vezes esta forma abreviada é mais directa. ("F" e "G" abreviam predicados.) É mais simples dizer "A água é H2O" do que dizer "Uma substância é água se, e só se, for H2O". Mas as duas formas são aceitáveis. Todavia, para sabermos avaliar definições temos não só de ter em mente todas as distinções que já aqui apresentámos, mas temos também de saber muito bem o que quer dizer o "se, e só se" que ocorre nas definições. E mesmo quando não ocorre, quando dizemos apenas "é", podemos entender que isto é apenas uma forma abreviada de falar.

    O que quer dizer "se, e só se"? Em primeiro lugar, quer dizer o mesmo que "se, e somente se" estas duas maneiras de falar são apenas variações linguísticas. Uma afirmação com a forma "se, e só se" é uma bicondicional; podemos também dizer que é uma equivalência. O que é uma bicondicional? Uma bicondicional, como o nome indica, são duas condicionais juntas. Assim, dizer "p se, e só se, q" é o mesmo do que dizer "Se p, então q, e se q, então p". ("p" e "q" abreviam afirmações.) E como podemos avaliar as bicondicionais? Em que condições são as bicondicionais verdadeiras ou falsas?

    Uma bicondicional é uma forma de juntarmos duas afirmações. "Hoje vou à praia" e "A Joana telefona-me" são duas afirmações. Podemos juntar as duas e dizer "Hoje vou à praia se, e só se, a Joana me telefonar". Esta frase grande, constituída pelas duas mais pequenas, é uma bicondicional. E será verdadeira quando as duas frases que a constituem tiverem o mesmo valor de verdade. Se a primeira for verdadeira e a segunda falsa, ou vice-versa, a bicondicional será falsa. Isto é evidente para quem sabe lógica proposicional.

    Mas há outra forma importante de entender as bicondicionais e que nos mostra imediatamente como podemos avaliar definições baseadas em bicondicionais. Uma bicondicional oferece-nos condições necessárias e suficientes. Quando eu digo que vou à praia se, e só se, a Joana me telefonar, estou a dizer que uma condição necessária e suficiente para eu ir à praia é o telefonema da Joana. Por outras palavras, vou à praia exactamente no caso de a Joana me telefonar, e não vou à praia precisamente no caso de ela não me telefonar. A melhor maneira de pensarmos no que são condições necessárias e suficientes é a seguinte.

    Uma condição suficiente para ser F diz-nos as condições que basta algo obedecer para ser F. Uma condição suficiente para ser uma ave é ser um pintassilgo. Isto quer dizer que não há pintassilgos que não sejam aves, ou seja, quer dizer que todos os pintassilgos são aves. Se G é uma condição suficiente para F, então todos os G são F. Uma condição suficiente garante que não temos coisas a mais. É uma boa garantia. Mas não chega, porque não garante que não temos coisas a menos. Afinal, não é verdade que todas as aves são pintassilgos. Os pardais também são aves.

    Por outro lado, uma condição necessária para ser F diz-nos as condições a que algo tem de obedecer para ser F. Uma condição necessária para ser ave é pôr ovos. Isto quer dizer que não há aves que não ponham ovos, ou seja, quer dizer que todas as aves põem ovos. Se G é uma condição necessária para F, então todos os F são G. Uma condição necessária garante que não temos coisas a menos. É uma boa garantia. Mas não chega, porque não garante que não temos coisas a mais. Afinal, não é verdade que todos os animais que põem ovos são aves. As serpentes também põem ovos.

    A magia acontece quando juntamos condições necessárias e suficientes. Aí temos esta excelente garantia: não deixamos nada de fora nem temos coisas a mais. É o melhor dos mundos: todos os F são G e todos os G são F.

    A maneira de avaliar definições é ver separadamente se as condições apresentadas são realmente necessárias e depois ver se são suficientes (ou vice-versa, a ordem é irrelevante). Por exemplo, imagine que eu lhe digo o seguinte:

    O Homem é o ser que faz de si próprio uma questão para o pensamento. Esta é uma ideia aparentemente profunda. Mas será que o leitor se deve limitar a repetir esta sentença de aspecto profundo? Não será melhor tentar ver se eu tenho razão? Se quiser fazer isso, e pensar por si mesmo em vez de repetir apenas o que eu digo, pode pensar assim: Aparentemente, o autor está a dizer, com uma linguagem sexista e antiquada, que um ser é um ser humano se, e só se, fizer de si mesmo uma questão para o pensamento. Isto quer dizer que uma condição necessária e suficiente para ser um ser humano é um ser pensar em si mesmo. Mas isto não pode ser verdade. Se houver quaisquer outros seres inteligentes no universo, ou se houver Deus, ou se houver anjos, todos esses seres reflectirão sobre si próprios, mas não serão seres humanos. Portanto, reflectir sobre si mesmo não é uma condição suficiente para ser um ser humano. Na melhor das hipóteses, é uma condição necessária. Mas será necessária? Será que os primeiros homens da pré-história reflectiam sobre eles? Muito provavelmente, não. Portanto, o que o autor quer realmente dizer, se tentarmos ser justos, é que uma característica importante dos seres humanos é a sua inteligência, que lhes permite pensar em muitas coisas incluindo neles próprios. Mas isto é trivial. Por detrás de uma afirmação de aspecto portentoso, esconde-se uma trivialidade sem qualquer interesse e da qual nada de substancial pode resultar.

    Em suma: quando estamos perante uma definição com a forma "F se, e só se, G" temos de tentar ver se há efes que não são guês e se há guês que não são efes. E mesmo que a definição se apresente apenas como "F é G", devemos entender esta expressão como uma abreviatura.

    Resta chamar a atenção para uma subtileza. Imagine que eu afirmo "F é G e H" ou "F se, e só se, G e H". Neste caso, estou a apresentar duas propriedades para conseguir a minha definição. Quando a nossa definição apresenta mais de uma propriedade, devemos entender que só a conjunção das propriedades é uma condição suficiente. Isto é, é o conjunto de G e H que é uma condição suficiente para F. G, separadamente, ou H, separadamente, podem não ser condições suficientes para F. Mas G e H são, separadamente, condições necessárias para F. Isto quer dizer que G, só por si (tal como H), é uma condição necessária para F.

    Por exemplo, pensemos na seguinte definição: "Um estudante tem aproveitamento se tiver mais de 10 e tiver assistido a mais de 80% das aulas". Isto quer dizer uma condição necessária para ter aproveitamento é ter mais de 10; outra é ter assistido a mais de 80% das aulas. Mas não basta ter mais de 10 para ter aproveitamento; Nem basta ter assistido a mais de 80% das aulas para ter aproveitamento; é preciso as duas coisas juntas. Assim, ter mais de 10 e ter assistido a mais de 80% das aulas são condições conjuntamente suficientes e separadamente necessárias para ter aproveitamento. Isto quer dizer que todos os alunos que tiverem aproveitamento terão tido mais de 10. Mas nem todos os alunos que tiveram mais de 10 terão tido aproveitamento. Todavia, todos os alunos que tiveram mais de 10 e que assistiram a mais de 80% das aulas tiveram aproveitamento.

    Avaliar definições

    Os três tipos de definições explícitas exigem da parte de quem as avalia alguma subtileza. Em primeiro lugar, qualquer definição explícita, seja analítica, essencialista ou meramente extensional, tem de passar o teste das condições necessárias e suficientes. Se a definição diz que os seres humanos são animais racionais, não podemos encontrar um animal racional que não seja um ser humano, nem podemos encontrar um ser humano que não seja um animal racional. O esquema geral é sempre o mesmo: definições como "F é G" ou "F se, e só se, G" avaliam-se procurando contra-exemplos. Um contra-exemplo é um F que não é G, ou um G que não é F. (Esta é uma das razões pelas quais o quadrado de oposição é importante.)

    Se encontrarmos um contra-exemplo deste género, a definição cai por terra, seja ela analítica, essencialista ou extensional. Porque um contra-exemplo refuta a forma mais fraca de definição, a extensional, refuta também qualquer das outras formas mais fortes de definição explícita. Se a definição não é boa nem em termos meramente extensionais, então também não é uma boa definição essencialista nem analítica.

    Portanto, para derrotar qualquer um dos tipos de definições explícitas, basta um contra-exemplo.

    Mas como avaliamos as definições essencialistas? Claro, já sabemos que se nem sequer for uma boa definição extensionalista, também não será uma boa definição essencialista. Mas imaginemos que estamos perante uma definição que não levanta contra-exemplos, como "o ser humano é um animal racional". Não há animais racionais que não sejam humanos nem seres humanos que não sejam racionais. Mas isto não chega para mostrar que esta é uma boa definição essencialista. Isto só mostra que talvez seja uma boa definição extensionalista. Para ser uma boa definição essencialista tem de passar o teste das condições necessárias e suficientes, e mais um teste ainda. Não basta que não haja realmente contra-exemplos; é preciso que não seja possível haver contra-exemplos. Isto é, não basta que efectivamente todos os seres humanos sejam animais racionais e que todos os animais racionais sejam seres humanos. É preciso que não tivesse podido ser de outro modo. Ora, é perfeitamente plausível que os animais racionais não tivessem sido humanos; poderiam ter pertencido a outra espécie qualquer. Portanto, apesar de esta definição passar o primeiro teste, falha o segundo: falha o teste modal. Para que uma definição essencialista seja boa não basta que todos os F sejam G e que todos os G sejam F. É preciso que seja necessário que todos os F sejam G e que todos os G sejam F.

    Uma definição analítica tem de passar três testes. O primeiro, o das condições necessárias e suficientes; o segundo, o teste modal; e um terceiro teste. Imaginemos que eu defendo a seguinte definição: "A água é H20". Será esta uma boa definição analítica? Será que estamos perante uma análise de "água"? Para avaliarmos esta definição temos de saber se há efectivamente substâncias que sejam H20 e não sejam água, ou vice-versa. Não há tal coisa. A definição passa o primeiro teste. E será necessário que qualquer substância que seja H20 é água e vice-versa? É verdade que sim; não é possível que um certo líquido seja realmente água mas não seja H20 nem vice-versa. A definição passa o segundo teste. Mas não passa o terceiro teste: "H20" não é um sinónimo de "água". Se fosse um sinónimo, não teria sido uma descoberta da química. É este o terceiro teste, o teste que nos diz se uma definição é ou não analítica. Se for analítica, F e G têm de ser sinónimos: G tem de captar o significado de F. Este é o tipo mais forte de definição e agora percebemos porquê: para termos uma boa definição analítica, temos de nos submeter a três testes e não apenas a um ou dois.

    Definições implícitas e caracterizações

    Demorámos bastante a distinguir os 3 tipos de definições explícitas a que podemos deitar mão. Mas estas definições não são as únicas que existem. Também temos definições implícitas. As definições implícitas não são muito populares e intuitivamente podemos ser levados a pensar que as definições implícitas não são verdadeiras definições. Isto é um erro. Algumas definições implícitas podem ser extraordinariamente precisas e rigorosas, podendo até ser usadas em lógica, geometria e matemática. E há razões para pensar que alguns conceitos centrais não poderão ser explicitamente definidos. Todavia, não se segue daí que não possamos definir com muito rigor esses conceitos. Pura e simplesmente, essa definição não será explícita.

    Pensemos, por exemplo, na cor verde. Como posso eu definir esta cor? Um físico ou um psicólogo cognitivo podem talvez definir explicitamente o verde. Mas todos nós podemos definir implicitamente a cor verde. Fazemo-lo apontando para os objectos verdes e distinguindo-os dos objectos que não são verdes. Isto acontece com a maior parte dos nossos conceitos. Sabemos muito bem o que é uma obra de arte e o que não é uma obra de arte, mas temos uma grande dificuldade em definir explicitamente uma obra de arte. Sabemos muito bem o que é um acto moralmente correcto de um acto moralmente incorrecto, mas temos uma grande dificuldade em definir explicitamente um acto moralmente correcto. Sócrates exagerava quando clamava que os seus concidadãos nada sabiam da moral ou da justiça por serem incapazes de definir explicitamente a justiça ou o bem. Claro que eles sabiam muito acerca da justiça e acerca do bem. Pura e simplesmente não conseguiam apresentar definições explícitas dos conceitos centrais da ética e da filosofia política.

    Há dois tipos de definições implícitas: as ostensivas e as não ostensivas. Nas definições implícitas ostensivas, limitamo-nos a apontar para casos concretos de objectos que exemplificam o que queremos definir. Perguntam-me o que é a justiça e eu apresento vários casos de actos justos e vários casos de actos injustos. Perguntam-me o que é a cor verde e eu apresento vários casos de objectos verdes e vários casos de objectos que não são verdes. Isto é perfeitamente adequado.

    Por outro lado, posso apresentar uma definição não ostensiva. Por exemplo, posso apresentar um sistema lógico em que nunca defino explicitamente a adição. Mas porque o sistema exibe as propriedades fundamentais da adição, o meu sistema acaba por constituir na sua globalidade uma definição implícita de adição. Em lado algum do sistema encontramos uma afirmação que defina a adição. Mas a totalidade do sistema é uma poderosa definição implícita de adição; a adição é o que tem as propriedades evidenciadas pelo meu sistema.

    Tipos de definições

    Todavia, nem sempre obtemos o esclarecimento que desejamos com as definições implícitas. Alguém que me pergunte o que é a literatura ficará decepcionado se eu me limitar a mandar-lhe vários romances para casa, ao ritmo de um por semana, para ele ler. Todavia, eu terei uma grande dificuldade em definir explicitamente a literatura. Uma caracterização é uma alternativa à definição, que muitas vezes surge em complemento à definição.

    Numa caracterização apresentamos um conjunto de propriedades que consideramos importantes para que se compreenda do que estamos a falar. Essas propriedades podem não ser necessárias nem suficientes. São apenas propriedades que podem ser esclarecedoras, mesmo que haja excepções, mesmo que muitas outras propriedades possam ser evocadas, etc. Por exemplo, se uma criança me perguntar o que é o álcool duvido que seja muito útil falar-lhe da composição química do álcool. Todavia, esta definição é perfeitamente boa, é uma definição essencialista. Mas não é informativa; na verdade, é até incompreensível. A criança precisa de algo que a ajude a começar a identificar o álcool, distinguindo-o de outras coisas, precisa de saber o que fazemos em geral com o álcool, etc. E é isso que lhe podemos dizer. Podemos dizer-lhe que é um líquido transparente que usamos para desinfectar feridas, que é muito inflamável e volátil, etc. Em suma, escolhemos um conjunto de propriedades que reputamos importantes e apresentamos essas propriedades à criança. E podemos fazer isto ao mesmo tempo que lhe mostramos frascos com álcool. E até podemos fazer isto ao mesmo tempo que apresentamos uma definição essencialista; pois nessa altura a definição essencialista já será informativa e compreensível. As caracterizações são auxiliares preciosos para a compreensão.

    É por isso que quem insiste numa definição explícita de filosofia analítica como condição prévia para podermos identificar textos de filosofia analítica está a laborar num erro. Se isso fosse assim, quase ninguém saberia identificar quase nada. Se queremos informar as pessoas de algo, o melhor é mostrar-lhes exemplos claros disso, e apresentar uma caracterização. As definições explícitas não são geralmente informativas para quem nada sabe do que estamos a falar. Mas as definições implícitas e as caracterizações são muito úteis, pois permitem ao nosso interlocutor descobrir por si o que desejamos dar a conhecer. Por isso, quando alguém nos pergunta o que é a filosofia analítica, devemos destacar algumas características importantes, e dirigi-lo para os livros relevantes, onde poderá ver por si mesmo o que é a filosofia analítica.

    Metáforas e jogos de palavras

    Afirmei que as definições essencialistas eram mais "fortes" do que as extensionais e mais "fracas" do que as analíticas. Mas esta metáfora da força quer dizer o quê?

    Algumas pessoas pensam que na filosofia e no pensamento, as metáforas devem ser encaradas como pontos de chegada do pensamento. Neste caso, estão a confundir muitas coisas. As metáforas podem ser importantes por vários motivos; são importantes porque nos ajudam a compreender as coisas; são importantes porque tornam o nosso discurso mais atraente. Mas pensar que podemos usar metáforas como substituto do pensamento literal é batota. Se eu fosse incapaz de explicar literalmente o que quis dizer com "força" neste contexto, o leitor talvez desconfiasse que eu não sabia muito bem do que estava a falar. E teria razão.

    Quem usa X como metáfora para falar de Y tem de obedecer a duas condições para podermos considerar que é intelectualmente honesto. Em primeiro lugar, tem de ter um bom conhecimento de X. Eu não posso usar a mecânica quântica como metáfora para falar de arte se não tenho um conhecimento profundo da mecânica quântica. Isto será apenas uma forma de tentar impedir o pensamento do leitor, que fica intimidado com o meu uso de tão esotérica área do conhecimento. Em segundo lugar, tem de saber explicar as coisas sem recorrer à metáfora, tem de saber exprimir-se literalmente. Se eu for incapaz de me exprimir literalmente para falar da força lógica, o leitor terá a certeza que eu não sei bem do que estou a falar e a metáfora é apenas uma forma de esconder a minha ignorância. Se o nosso médico for incapaz de explicar literalmente o que é uma constipação, se tiver sempre de recorrer a metáforas, é incompetente. O mesmo acontece na filosofia e em tudo.

    Quando dizemos que F tem mais força lógica do que G isto quer dizer que F implica G, mas G não implica F. Assim, todas as definições analíticas nos dão simultaneamente propriedades essenciais individuadoras e ao mesmo tempo garantem a coincidência extensional. Mas nem todas as definições essencialistas são analíticas, apesar de todas as definições essencialistas garantirem a coincidência extensional. Agora ficou claro o que queríamos dizer. Sem metáforas.

    Todavia, há um aspecto que pode confundir o estudante. Pensemos, por exemplo, na filosofia da arte. Um dos problemas desta disciplina é a definição de obra de arte. O que é realmente uma obra de arte? Como é habitual nestas coisas, estamos como Agostinho, que dizia acerca do tempo: se ninguém me pergunta, sei o que é; se me perguntam, não sei. O que Agostinho queria dizer era que tinha uma boa definição implícita de tempo, mas era incapaz de dizer explicitamente o que é o tempo. E o mesmo acontece com a arte. Agora já compreendemos bem este aspecto. Mas há algo que ainda pode provocar confusão e é o seguinte: as definições essencialistas de arte são refutadas mostrando que há obras de arte que escapam à definição, ou que pelo contrário a definição abarca coisas que não são obras de arte. Ora, este tipo de contra-exemplos não refuta apenas as definições essencialistas: refuta qualquer tipo de definições explícitas. Isto pode confundir-nos, porque podemos pensar que nesse caso nem sequer há definições essencialistas. Isto é um erro. Claro que há. O problema é que em alguns casos nem sequer conseguimos definições extensionais.

    Bem sei que não é fácil ver a diferença entre definições essencialistas e meramente extensionais. Não conseguiremos ver a diferença enquanto não pensarmos em termos modais. Vejamos se conseguimos esclarecer este aspecto. Pensemos em corvos. Todos os corvos são negros. Será que a propriedade de ser negro é essencial dos corvos? Que quer isto dizer? Todos os corvos são efectivamente negros. Mas ao perguntarmos se esta é uma propriedade essencial estamos a perguntar se há circunstâncias possíveis em que os corvos não são negros. E podemos perfeitamente dizer que sim. Em determinadas circunstâncias ambientais, que um biólogo evolucionista poderá determinar, os corvos poderiam ter sido verdes, se isso tivesse favorecido a sua sobrevivência. Que quer isto dizer? Isto quer dizer que podemos usar a propriedade de ser negro para construir uma definição de corvo, mas essa definição será meramente extensional. Não será uma definição essencialista.

    Para terminar, quero chamar a atenção para o título deste ensaio: trata-se de um claro jogo de palavras. É uma brincadeira. Falar na definição de "definição" tem graça. É falar da filosofia dizendo que consiste em pensar sobre o pensamento. Mas um jogo de palavras não pode ser encarado como mais do que uma brincadeira. E é claro que há brincadeiras muito sérias, basta ler Lewis Carrol e saber lógica para perceber isso. Mas, uma vez mais, não podemos substituir o pensamento literal e directo, pelos jogos de palavras. Precisamente porque os jogos de palavras são divertidos, hipnotizam o leitor e tiram-lhe o espírito crítico. E o que um autor honesto quer é leitores críticos, que o possam corrigir, e não leitores anódinos, que acenam com a cabeça e repetem o "mantra" infinitamente.

    Finalmente, repare-se que ao longo deste ensaio nunca disse explicitamente o que era uma definição. Mas na sua totalidade, espero que este ensaio constitua uma boa definição do que é uma definição. Cabe ao leitor saber que tipo de definição é, e verificar se contém erros, que eu terei de corrigir -- com todo o gosto, pois não há nada que mais agrade a um autor do que ser corrigido pelos seus leitores.

    Desidério Murcho


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    My Children:
    Crítica Central de filosofia e cultura
     Filosofia da Ciência Filosofia Leitura Música
    História da Ciência e suas Reconstruções Racionais, Imre Lakatos
    História da Ciência e suas Reconstruções Racionais, de Imre Lakatos
    Tradução de Emília Picado Tavares Marinho Mendes
    Edições 70, 1998, 176 pp.

    Quando tentam compreender o método científico, os filósofos desenvolvem diversas concepções da racionalidade científica e interpretam a história da ciência de acordo com essas concepções. Filosofias da ciência diferentes produzem assim reconstruções racionais diferentes para a história da ciência. Mas em que diferem essas reconstruções? Será que alguma delas é superior às restantes? Imre Lakatos ocupou-se seriamente destas questões. Examinou com acuidade as filosofias da ciência mais influentes e propôs a metodologia dos programas de investigação, uma tentativa original de proporcionar uma melhor reconstrução racional da história da ciência. Essa tentativa estrutura os ensaios reunidos em «História da ciência e suas Reconstruções Racionais». Com este livro, as Edições 70 dão a conhecer ao público português a obra de Lakatos, um dos filósofos da ciência mais marcantes deste século.

    Lakatos teve um percurso filosófico invulgar. Morreu em 1974 com pouco mais de 50 anos, e tinha já cerca de quarenta quando iniciou as investigações que o tornaram conhecido. Karl Popper foi quem mais influenciou essas investigações. «Mais do que ninguém», declara Lakatos, «ele mudou a minha vida. Tinha quase quarenta anos quando entrei no campo magnético do seu pensamento. A sua filosofia ajudou-me a fazer a ruptura final com a visão hegeliana do mundo, que eu defendera durante cerca de vinte anos.» Na década de intensa actividade que precedeu a sua morte, Lakatos não chegou a publicar qualquer livro, mas muitos dos seus artigos foram postumamente reunidos em três volumes. O primeiro, «Proofs and Refutations», apresenta-nos um diálogo delicioso sobre a lógica da descoberta matemática. Os outros volumes receberam o título convencional de «Philosophical Papers», e é de um deles que provêm os ensaios traduzidos agora para português.

    O ensaio introdutório ocupa-se do problema da demarcação entre ciência genuína e pseudociência. A resposta de Popper para este problema diz-nos que as teorias científicas distinguem-se das pseudocientíficas em virtude de serem refutáveis, e que a atitude científica consiste em submeter as teorias a «testes cruciais» que visam refutá-las ou falsificá-las. Lakatos, no entanto, considera ingénuo o falsificacionismo de Popper, alegando que este não está de acordo com o comportamento dos cientistas. Quando rejeitam uma teoria, os cientistas não o fazem «apenas porque os factos a contradizem». Perante dados empíricos adversos, não hesitam em invocar hipóteses auxiliares para salvar as teorias. Vêem esses dados não como «refutações» das suas conjecturas, mas como simples «anomalias» que não requerem uma solução imediata. Os testes cruciais de que Popper fala são assim ficções historicamente infundadas; os relatos desses testes «são forjados muito depois de as teorias terem sido abandonadas». Como alternativa ao falsificacionismo, Lakatos sugere que para resolver o problema da demarcação é melhor pensar não em teorias ou conjecturas isoladas, mas em unidades mais abrangentes, pois «a ciência não é simplesmente ensaio e erro, uma série de conjecturas e refutações». Lakatos designa essas unidades por «programas de investigação». A questão torna-se assim a de saber o que é um programa de investigação e o que torna científico um desses programas.

    No segundo ensaio, que intitula o livro, Lakatos explora em profundidade as relações entre a filosofia e a história da ciência, acabando por apresentar a sua própria metodologia filosófica como um programa de investigação historiográfico. Para além de desenvolver a crítica ao falsificacionismo, Lakatos examina as metodologias indutivista e convencionalista. Enquanto os indutivistas destacam na história da ciência a realização de generalizações a partir de proposições bem comprovadas, os convencionalistas valorizam antes a descoberta de sistemas de classificação novos e mais simples. Para Lakatos, no entanto, os grandes momentos da história da ciência resultam de programas de investigação «progressivos». Mas o que é afinal um programa de investigação? No terceiro ensaio, onde Lakatos mostra como as diversas filosofias da ciência reconstroem a revolução copernicana, encontramos a resposta mais elaborada para esta questão. Um programa de investigação consiste numa série de teorias em desenvolvimento. Essas teorias giram em torno de um «centro firme» constituído pelas proposições fundamentais do programa, que dão origem a inúmeros problemas e são consideradas irrefutáveis. A «heurística» do programa proporciona meios para resolver esses problemas, e a sua «cintura protectora» de hipóteses auxiliares protege o núcleo firme. Quando as modificações teóricas conduzem a previsões bem sucedidas de factos novos, o programa é progressivo, mas se essas modificações forem apenas manobras «ad hoc», então o programa torna-se degenerativo. Lakatos defende que, entre as metodologias disponíveis, só a dos programas de investigação permite considerar racional a revolução copernicana, sendo esse o seu grande mérito em relação às metodologias rivais.

    Com «História da ciência e suas Reconstruções Racionais», o leitor português pode conhecer o pensamento de Lakatos numa boa tradução. Falta agora traduzir, e publicar, o admirável «Proofs and Refutations».

    Pedro Galvão
    <Público>


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    Disputatio | A Journal of Philosophy in the Analytic Tradition


    Disputatio 3 (November 1997)
    Welcome
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    The Oxford Dictionary of Philosophy, de Simon Blackburn.
    Oxford: Oxford University Press, 1994.
    408 pp. £19.99 / £6.99 (trad. port. Gradiva, 1997)

    The Cambridge Dictionary of Philosophy, org. por Robert Audi.
    Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
    882 pp. £55 / £17.95

    A Dictionary of Philosophy, org. por Thomas Mautner.
    Oxford: Blackwell, 1996.
    482 pp. £25

    A Dictionary of Philosophy, de A. C. Lacey.
    Londres: Routledge, 1996 (3.a edição).
    386 pp. £8.99

    Desidério Murcho


    Dicionário de Filosofia, de Simon Blackburn
    Cambridge Dictionary of Philosophy
    Penguin Dictionary of Philosophy
    A Dictionary of Philosophy

    O dinamismo editorial e académico são indicadores, obviamente relacionados entre si, do valor e universalidade de uma cultura. Os três dicionários de filosofia que acabaram de ser editados (e o quarto que foi agora reeditado) constituem indícios seguros da vitalidade da cultura filosófica analítica. Destes quatro dicionários, os mais marcadamente analíticos são os de Lacey e Blackburn, apesar de todos emanarem claramente de uma cultura filosófica muito diferente da continental. O dicionário de Lacey não cobre quase nenhuns «conceitos» típicos da filosofia continental e o de Blackburn apresenta quase sempre uma perspectiva crítica e argumentativa, apesar de cobrir toda a filosofia (incluindo, além da continental, as filosofias clássicas indianas, chinesas e árabes). Uma das virtudes do dicionário de Blackburn consiste precisamente em tornar apetecível a filosofia continental; um leitor com formação continental, como no meu caso (e no caso de quase toda a gente em Portugal), descobre com surpresa que desconhece quase tudo o que existe de interessante na filosofia continental (Sartre, Heidegger, Hegel, Husserl, Nietzsche, Derrida, etc.), assim como na filosofia clássica. A virtude do dicionário de Blackburn deve-se ao facto de o autor não se limitar a parafrasear os filósofos continentais, optando antes por formular criticamente as suas «teorias», indicando possíveis argumentos, favoráveis e desfavoráveis. As ideias de Heidegger ou Sartre não surgem assim como artigos de museu historicamente enquadrados que basta expor ao público; ao invés, surgem-nos como parte viva da cultura filosófica de todos nós, que por isso nos interpela e que por isso também não pode furtar-se ao exame crítico atitude essa que começa com uma simples pergunta: «Será isto verdade?»

    A enorme abrangência dos dicionários de Blackburn, Audi e Mautner é sintomática de uma atitude universalista que constitui a mais eloquente refutação da ideia de que a filosofia analítica é redutora (como se a procura da verdade fosse redutora). Talvez o leitor antipático à filosofia analítica se sinta um tanto ou quanto impaciente pelo facto de as ideias de Derrida ou Nietzsche serem criticamente avaliadas, relativizando assim o poder sugestivo que aparentemente constitui o único objectivo deste tipo de filosofia. Mas este não me parece ainda um bom argumento contra a filosofia analítica, da mesma forma que o poder sugestivo da alquimia ou da astrologia não dão a estas práticas maior dignidade académica, cultural ou científica do que a química ou a astronomia, apesar de o poder sugestivo das primeiras continuar ainda hoje a encantar muitos espíritos menos sofisticados e exigentes.

    Se não contarmos com a sua origem analítica comum, estes quatro dicionários são bastante diferentes entre si. De todos eles, o de Lacey é o mais antigo (a sua 1.a edição data de 1976) e, juntamente com a edição paperback do dicionário de Blackburn, apresenta-se num pequeno formato, facilmente transportável. Estes dois dicionários são também os únicos inteiramente redigidos por uma única pessoa. O dicionário de Mautner foi em grande parte redigido por ele próprio, sendo as restantes entradas da autoria de 79 outros filósofos, dos quais se destacam Alan MacIntyre, Chandran Kukathas, Isaiah Berlin, John Cottingham, John Haldane, John Passmore, John Searle, Peter Singer, Roderick Chisholm, Richard Hare, Richard Rorty e Willard Quine. Alguns destes filósofos (como Quine, Singer e Searle) foram convidados a escrever auto-retratos filosóficos, uma característica única em todos estes dicionários.

    O dicionário de Audi (que não escreveu nenhuma entrada) tem aproximadamente o dobro do tamanho de qualquer dos outros, foi escrito por 381 filósofos e contou com a consultoria editorial de 28 filósofos, entre os quais se contam D. M. Armstrong, Hector-Neri Castañeda, Roderick M. Chisholm, Patricia Smith Churchland, Arthur C. Danto, Fred Dretske, Dagfinn Følesdal, David Kaplan, J. R. Lucas, Richard Rorty, John Searle e Bas van Fraassen. Entre os autores das entradas contam-se nomes tão ilustres como Jon Barwise, Daniel Dennett, John Etchmendy, Solomon Feferman, Graeme Forbes, Paul Horwich, Jaegwon Kim, Ernest LePore, William Lycan, A. P. Martinich, Mourelatos, David Fate Norton, Mark Sainsbury, Lawrence Sklar, Ernest Sosa, Paul Teller e Douglas Walton. A característica mais infeliz deste dicionário é a completa ausência de entradas sobre filósofos vivos. Esta opção é justificada pelo organizador, ao afirmar que, dado muitos dos filósofos actuais estarem ainda filosoficamente activos, qualquer descrição do seu pensamento seria sempre inadequado, e que só a distância histórica permite uma avaliação correcta da obra de um filósofo. Não é claro se estamos perante duas justificações ou uma única. Mas mesmo que sejam duas razões independentes, não justificam de forma alguma tão bizarra opção.

    A segunda razão não justifica a opção, uma vez que a distância histórica que nos separa de alguns filósofos recentemente falecidos, como Popper, é a mesma que nos separa de um filósofo como Quine: ninguém acredita que a morte de Popper em 1994 nos possibilitou subitamente um distanciamento histórico diferente daquele que é possível ter em relação a Quine. Quanto à primeira razão invocada por Audi, é difícil de acreditar que não podemos avaliar a obra de filósofos como Goodman, Davidson, Lewis, Singer ou Thomas Nagel só porque, sobretudo os últimos, são ainda filósofos activos. Teremos de esperar que morram para podermos apresentar e discutir as suas teorias? A opção de Audi não pode justificar-se convenientemente e priva o leitor de um conjunto de entradas importantes. Para atenuar os maus efeitos desta opção, Audi incluiu um índice onomástico que remete o leitor para algumas das várias entradas em que se discutem as teorias dos filósofos contemporâneos que não surgem como entradas independentes.

    Apesar deste problema, o dicionário de Audi é o mais completo: o seu volume permite-lhe ter entradas mais aprofundadas do que os outros dicionários, algumas delas bastante boas, como analytic-synthetic distinction, a priori, artificial intelligence, causation, property, logical notation e meaning, entre muitas outras, para além daquelas que, por serem escritas por autoridades mundiais, constituem excelentes exemplos da vitalidade e alta qualidade da filosofia analítica contemporânea (como é o caso das entradas truth, de Paul Horwich, informal fallacy, de Douglas Walton, paternalism, de Gerald Dworkin, modal logic, de Graeme Forbes, essentialism, de Michael J. Loux, philosophy of language, de William G. Lycan, philosophy of science, de Lawrence Sklar e skepticism, de Ernest Sosa). As 864 páginas do dicionário de Audi permitem-lhe ainda oferecer pequenas entradas altamente informativas que são omissas nos outros dicionários, como, entre outras, non-monotonic logic, inferential knowledge e corners, as famosas para-aspas introduzidas por Quine, hoje generalizadas.

    Uma das vantagens dos dicionários de Lacey e, sobretudo, de Blackburn, são as referências cruzadas, cuja ausência é por vezes gritante nos outros dicionários. Por exemplo, a entrada relevance logic, do dicionário de Audi, não remete para non-monotonic logic, nem vice-versa; no entanto, o confronto de ambas é altamente informativo para o leitor. As parcas remissões dos dicionários de Audi e Mautner constituem, aliás, uma das suas maiores falhas.

    O dicionário de Mautner foi claramente concebido com o público escolar de língua inglesa firmemente em vista, sobretudo o mais jovem: os termos de pronúncia menos conhecida, como os termos de origem grega e latina, assim como nomes de filósofos clássicos ou «estrangeiros» (entenda-se, de língua não inglesa), são acompanhados de indicações fonéticas; o alfabeto grego, com os seus nomes e transliterações, precede o corpo do dicionário; em apêndice, são-nos oferecidas 21 úteis páginas de bibliografia disponível em língua inglesa contendo todos os clássicos, assim como a literatura corrente e as grandes obras de referência; finalmente, as entradas foram em geral redigidas de forma acessível e clara, procurando sobretudo introduzir o leitor que pouco ou nada sabe de filosofia.

    A atenção ao didactismo está também presente no dicionário de Lacey, apesar de, neste caso, se ter em vista um público universitário claramente mais sofisticado. A grande vantagem deste dicionário constituindo, aliás, característica única entre todos os seus concorrentes são as generosas referências bibliográficas oferecidas no final de cada entrada. Os comentários que acompanham estas referências fazem delas autênticos guias que orientam o leitor através da volumosa literatura filosófica contemporânea. O seu aspecto menos feliz são as entradas sobre filósofos, que pelo seu carácter esquemático são parcamente informativas. Numa entrada de dicionário sobre Aristóteles ou Carnap espera-se uma descrição, ainda que sumária, das teorias propostas, dos problemas enfrentados e dos argumentos defendidos mas isso está praticamente ausente do dicionário de Lacey. O mesmo não acontece com o dicionário de Blackburn, que nos oferece não apenas isso, mas também uma avaliação crítica o que constitui, aliás, um dos pontos fortes do seu dicionário.

    Efectivamente, o dicionário de Blackburn oferece-nos não apenas uma descrição das teorias, argumentos e problemas da filosofia, clássicos e contemporâneos, mas também uma perspectiva crítica, materializada em dois aspectos. Por um lado, Blackburn indica ao leitor os aspectos correntemente em disputa, informando-nos assim sobre o estado actual da situação; por outro lado, não se coíbe de avaliar criticamente teorias, problemas e argumentos. Desta forma, a filosofia surge como uma actividade viva e aberta, contrariando por isso duas ideias erradas: a de que a filosofia é apenas um corpo inerte de escritos do qual só resta fazer a sua história, e a de que ela se pode constituir como um corpo de conhecimentos tão fixo como a física ou a filologia, o qual seria transmissível sem que os seus destinatários percebessem tratar-se sobretudo de um conjunto de problemas em aberto, teorias discutíveis e argumentos contestáveis. Se juntarmos a isto o facto de algumas entradas (como apathy, cientism, incompossible, licentious, solipsism e teism, por exemplo) terem sido escritas com aquele humor superiormente culto que só floresce numa cultura de perfil universal, obtemos um dicionário que não nos limitamos a consultar: torna-se uma leitura aliciante, interessante também para o leigo e não apenas para o estudioso. Este aspecto é aprofundado pela abundância de remissões, como já foi assinalado, que conduzem o leitor de entrada em entrada, e pela inclusão de muitos termos de áreas adjacentes à filosofia (teologia, linguística, física, matemática, sociologia, arte, etc.), tornando assim evidente ao leitor não especializado que talvez existam aspectos filosoficamente relevantes na sua actividade.

    Todos estes dicionários são de elevada qualidade e a consulta de qualquer deles resulta sempre na recolha de informação fidedigna e clara. Uma vez que estes dicionários são parcialmente complementares, o melhor é poder consultá-los todos sempre que necessário: Mautner introduz os temas que Audi desenvolve, Blackburn dá-nos uma perspectiva crítica e Lacey orienta-nos pela literatura. Num país razoavelmente culto, todos estes dicionários estariam presentes nas prateleiras das bibliotecas escolares, mas eu não aconselharia o leitor a precipitar-se para a biblioteca da sua escola: provavelmente não encontra nenhum deles.

    Desidério Murcho
    Sociedade Portuguesa de Filosofia
    Av. da República, 37, piso 4
    1050-187 Lisboa, Portugal
    desiderio.murcho@kcl.ac.uk

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    Other Relatives
    Crítica Central de filosofia e cultura
     Geral Filosofia Leitura Música
    Analysis and Metaphysics, de P.F. Strawson
    A filosofia como gramática conceptual
    P.F. Strawson
    Universidade de Oxford

    Quando a primeira gramática de espanhol, ou melhor dizendo de castelhano, foi apresentada à rainha Isabel de Castela, a sua reacção foi a de perguntar para que servia ela. A resposta dada em nome do autor foi de carácter histórico, descrevendo a língua como um instrumento do Império o que podemos considerar irrelevante para os nossos propósitos. O que não é irrelevante é o significado da pergunta. Pois é óbvio que a gramática era, num certo sentido, completamente inútil para os falantes fluentes do castelhano. Num certo sentido, eles já a conheciam. Eles falavam castelhano correctamente pela razão simples de que o castelhano correcto era, por definição, aquilo que eles falavam. A gramática não estabeleceu o padrão de correcção para as frases que eles produziam; pelo contrário, foram as frases que eles produziam que estabeleceram o padrão de correcção para a gramática. Contudo, embora em certo sentido eles já soubessem a gramática da sua língua, noutro sentido não sabiam.

    Se alguém tivesse pedido a Isabel que enunciasse, de modo completamente sistemático, uma arquitectura de regras ou princípios à luz da qual se pudesse decidir, relativamente a qualquer sequência de palavras castelhanas, se tal sequência constituía uma frase gramaticalmente completa e correcta, ela não saberia o que dizer. A sua prática, bem como a dos seus cortesãos, de construírem frases do castelhano, mostrava que ela e eles obedeciam, num certo sentido, a um tal sistema de regras ou princípios. A sua prática era, em certo sentido, governada por essas regras ou princípios. Mas do facto de eles obedecerem sem esforço às regras não se segue, de todo, que fossem capazes, com ou sem esforço, de enunciá-las, de dizer em que consistiam.

    A conclusão que podemos tirar desta história é que ser capaz de fazer algo neste caso falar gramaticalmente é muito diferente de ser capaz de dizer como é que isso se faz; e que a primeira capacidade está longe de implicar a segunda. O domínio de uma certa prática não implica um domínio explícito (embora possa por vezes conceder-se que implica um domínio implícito) da teoria dessa prática. As gramáticas foram dominadas implicitamente muito antes de terem sido sequer explicitadas por escrito; e as gramáticas implícitas são necessárias à capacidade de falar e portanto necessárias a todo o pensamento, excepto o mais rudimentar. Mas claro que os seres humanos racionais, capazes de pensamento complexo, têm de ter um domínio implícito de mais do que gramáticas; ou melhor, o seu domínio implícito de uma gramática combina-se com um domínio implícito de todos os conceitos e de todas as ideias gerais que a sua linguagem exprime e que utilizam quando pensam. Nos nossos intercâmbios uns com os outros e com o mundo utilizamos um equipamento conceptual extraordinariamente rico, complexo e sofisticado; mas não aprendemos, nem poderíamos aprender, a dominar as peças deste formidável equipamento aprendendo a teoria do seu emprego.

    Assim, por exemplo, sabemos perfeitamente, em certo sentido, o que é conhecer muito antes de ouvir falar (se é que chegamos a ouvir falar) de Teoria do Conhecimento. Sabemos o que é dizer a verdade sem provavelmente suspeitar que haja coisas como Teorias da Verdade. Aprendemos a usar correctamente palavras ou expressões como «o mesmo», «real», «existe» sem estar a par dos problemas filosóficos da Identidade, da Realidade e da Existência. Do mesmo modo, aprendemos a utilizar um vasto e heterogéneo conjunto de noções: éticas (bem, mal, correcto, incorrecto, castigo), conceitos temporais e espaciais, as ideias de causalidade e explicação, ideias de emoções (tristeza, ira, medo, alegria), de operações mentais de vários tipos (pensar, acreditar, duvidar, recordar, esperar, imaginar), de percepção e de experiência sensorial (ver, ouvir, tocar), categorias inteiras de conceitos classificatórios relativos a tipos de pessoas, animais, plantas, objectos da natureza, processos, acontecimentos, artefactos humanos, instituições e funções; e ainda as propriedades, qualidades, acções e afecções de todas estas coisas. Claro que aprendemos de diversos modos as palavras que exprimem estes conceitos; mas aprendemo-las em grande medida sem o auxílio daquilo a que se poderia chamar uma instrução teórica. Não tomamos contacto com elas como resultado de alguém nos informar qual é o seu lugar numa teoria geral dos conceitos. A instrução que recebemos é radicalmente prática e sobretudo baseada em exemplos. Em geral, aprendemos copiando e sendo ocasionalmente corrigidos; do mesmo modo, as crianças aprendem a falar gramaticalmente antes de ouvirem sequer falar em gramáticas.

    Continuemos com o exemplo. Tal como podemos ter um domínio prático da gramática da nossa língua materna, assim também temos um domínio prático do nosso equipamento conceptual. Sabemos como manuseá-lo, como o usar no pensamento e na linguagem. Mas tal como o domínio prático da gramática de modo nenhum implica a capacidade de enunciar sistematicamente o conteúdo das regras gramaticais que aplicamos sem dar por isso, assim também o domínio prático do nosso equipamento conceptual de modo nenhum implica que estejamos de posse de uma compreensão clara e explícita dos princípios que regem o uso que fazemos deles da teoria da nossa prática. Assim (para concluir a analogia), tal como o gramático, e especialmente o gramático moderno típico, se esforça por produzir uma análise sistemática da estrutura das regras a que obedecemos sem dar por isso quando falamos gramaticalmente, também o filósofo procura produzir uma análise sistemática da estrutura conceptual geral da qual, como mostra a nossa prática diária, temos um domínio tácito e inconsciente.

    Num certo sentido  para repetir o exemplo  compreendemos o conceito de conhecer, sabemos o que é conhecer ou o que significa a palavra «conhecer», uma vez que sabemos usar essa palavra correctamente. Num certo sentido, compreendemos o conceito de identidade pessoal, [] sabemos o que as palavras «a mesma pessoa» significam, uma vez que, na prática, sabemos como aplicar o conceito; e se, algumas vezes, temos dificuldade em decidir questões de identidade, trata-se de dificuldades de aplicabilidade em casos específicos, de carácter legal, e não dificuldades conceptuais. Mas, noutro sentido, é talvez verdade que não compreendemos os conceitos, que não sabemos o que é a identidade pessoal, nem sabemos dizer o que significa a palavra «conhecer». Dominámos uma prática, mas não somos capazes de explicitar a teoria da nossa prática. Sabemos as regras porque as seguimos, e contudo não as sabemos porque não somos capazes de dizer em que consistem. Em contraste com a facilidade e o rigor do nosso uso estão as hesitações e os erros que caracterizam as nossas primeiras tentativas de descrever e explicar o nosso uso.

    []

    Poderia dizer-se que é falso que não sejamos capazes de dizer, corriqueiramente, em que consistem os nossos conceitos, e qual o significado das nossas palavras; damos e recebemos frequentemente instrução justamente deste tipo e não é isso que faz daqueles que dão ou recebem essa instrução filósofos ou estudantes de filosofia. Parte da resposta a esta objecção é perguntar: quem é que lhe ensinou, leitor, o que significa na sua língua a palavra «mesmo», ou «saber», ou «se», ou «significado», ou «existe», ou a expressão «a razão pela qual»? E a quem é que o leitor já explicou o que estas palavras ou expressões significam? De modo que temos aqui um conjunto de conceitos basilares identidade, conhecimento, significado, existência, explicação que aprendemos a manusear com sucesso, mas que nunca nos foram ensinados através de um processo de instrução explícita. O resto da resposta é isto: toda a instrução explícita acerca destes significados que de facto recebemos e damos corriqueiramente é estritamente prática nos seus objectivos e efeitos. Aquilo que se pretende com ela é fazer com que sejamos capazes de compreender o modo como as expressões correspondentes são usadas, e de usá-las nós próprios. Tal instrução pressupõe um domínio prévio de uma estrutura conceptual existente e usa quaisquer técnicas que estejam à mão para a modificar e enriquecer; ao passo que os princípios, a estrutura e as explicações que o filósofo analítico procura não são alcançáveis por nenhuma destas técnicas exclusivamente práticas; pois elas são precisamente os princípios, a estrutura e as explicações cuja compreensão implícita é pressuposta pelo uso delas.

    P. F. Strawson
    Tradução de Pedro Santos
    Texto retirado de Analysis and Metaphysics (Oxford University Press, 1992, pp. 5-8).


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    Crítica Central de filosofia e cultura
      Cartas ao Director Filosofia Leitura Música

    Argumentação e subjectividade
    Marcos Melamed Barqui

    Sobre o artigo Argumentação e Subjectividade, publicada na última edição de Crítica, gostaria de comentar o seguinte. Nem sempre quando usamos o argumento para mim... (isto ou aquilo) estamos tentando escapar de apresentar argumentos. Pois, a seguir ao para mim... pode vir a justificativa, esta feita de modo objectivo, apresentando argumentos que servem para mim e para os outros.

    Entretanto, concordo que, na maioria das vezes, independentemente de o interlocutor questionar ou não o porquê da pessoa pensar assim, o para mim..., ou melhor, o que se segue ao para mim, não passa de um penso que, acho que... irrefletido o suficiente, ou sentido por demais com a intuição em detrimento de avaliado ou analisado com a razão -- um engodo para fugir circunstancialmente à crítica. E usa-se este recurso porque a pessoa acredita firmemente que o subjectivismo é por todos entendido e apreciado e respeitado -- no mau sentido coercitivo da palavra, isto é, como indiscutível: o subjectivismo é apreciado como um valor indiscutível, que gera e serve para proporcionar a indiscussão.

    Marcos Melamed Barqui

      Obrigado pela correcção. O texto foi modificado para não dar a ideia presumivelmente falsa de que sempre que se usa o recurso da subjectividade se está a fugir à discussão.

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